Desconhecidos!

Quando o vi pela primeira vez, tinha óculos grandes, vestido de hippie cantando algum hino Hari Cristina, sem se importar com o mundo que girava ao seu redor. Cantava as palavras que lhe vinham a mente e tocava algum instrumento que não tenho a menor idéia do nome que possa ter... Mente vazia, desprendido das coisas mundanas e feliz à sua maneira.

Quando a vi pela primeira vez, aguardavamos o semáforo abrir para os pedestres quando ela começou a falar comigo a respeito do caos do trânsito e da falta de educação dos motoristas, seguimos algumas quadras conversando, imagino que era seu primeiro dia em um novo trabalho, iria tentar pegar um ônibus pela primeira vez em um ponto próximo a minha casa, com muito bom humor me disse que se visse que o ônibus não iria parar seria ela quem ficaria parada na frente dele, mas que iria pra casa de qualquer jeito. Morava longe, trabalhava longe e ao final do dia ainda mantinha o bom humor! Senti um vergonha interior pelos dias que chego em casa reclamando da vida!

Quando o vi pela primeira vez, era o caixa livre do supermercado, logo soube de sua opção sexual, sem que fosse preciso ele dizer! Me chamou de amiga sem nunca ter me visto antes! Me falou das promoções do dia e na empolgação levei o terceiro sabonete líquido por apenas R$ 0,01, ainda com a possibilidade de escolher no caixa mesmo quais seriam as três opções que eu levaria, pois me trouxeram no caixa todas as opções que havia! Me contou com quem morava e até como era o refeitório do Supermercado! Dono de um bom humor extraordinário e feliz com seu trabalho, exemplo perfeito de alguém comprometido e feliz com o que faz! Resumo, toda vez que vou até lá procuro pelos caixas para ver onde está! Ganhou minha amizade, hehehehe

Quando a conheci, eu viajava de volta para casa, após um curso em Curitiba, ela viajava a passeio para a casa de seu filho, começou a conversar e seguimos muitos quilometros trocando idéias sobre livros, ela me contando sobre os bailes "de terceira idade" que frequentava, sobre seu novo amor, sobre os filhos e me disse até que eu deveria conhecer um dos deles, que era solteiro rs... Trocamos e-mail e pude visitá-la quando vim morar em Curitiba, mas não me interessei pelo filho, rs....

Quando a vi pela primeira vez, estava vestida de palhaço vendendo balas no sinal, embora palhaços sejam alegres, consegui ver que sua alma era triste, não tive tempo de conhêce-la melhor, mas eu seus olhos pude ler as muitas histórias que com certeza me contaria.

O conheci em Montevideo, enquanto sentada em um banco da Praça da Independência, descansava com minha irmã e meu amigo por alguns instantes... Logo que viu que eramos brasileiros, começou a contar suas histórias sobre suas viagens ao Brasil na década de 80, rs... Nos dizia pra cuidar com a "malandraje" e dizia que os brasileiros não se esforçam para aprender español, mas que ele fez questão de estudar português quando visitou nosso país. Nós deu muitas dicas de turismo em Montevideo e de tão empolgado sentou ao nosso lado no banco, se sentindo confortável para levar a diante as histórias!

O conheci no domingo passado, cantando na feirinha do Largo da Ordem, cantava algo como Raul Seixas, mas as músicas eram de sua autoria e tinha até CDs gravados, parei alguns minutos para ouvi-lo e achei interessante o jogo de palavras e a maneira que descrevia as situações cotidianas em suas canções. Fiquei imaginando como seria uma conversa com ele, rs...

Talvez nunca mais volte a ver essas pessoas, mas gostaria que elas soubessem que não foram invisíveis aos meus olhos! Todos os dias inúmeras pessoas passam desapercebidas aos nossos olhos desatentos. E por isso que tento ver a alma dessas pessoas, com a sensibilidade que me é peculiar, com a diferença que algumas terei a chance de conhecer, outras não! O mundo é imenso e esta diversidade me fascina!